Archive for julho \04\+00:00 2017

margem

julho 4, 2017

Quando a noite cai

E erguem-se os medos

De dentro do peito

Trago o abismo.

Mas, não rói receio

Que no fundo só da vida

toco poesias de margem.

jardins

julho 4, 2017

Por vezes me passa

Observando os muros que cercam a terra

Que os limites que me formam

Deformam os meus jardins.

Quando planto afetos em mim

Buscando desabrochar

Frutos que me transformem

Sangro farpados arames

Vontade perversa de aprisionar o mundo.

Meu jardim é dos bichos, dos vermes

Dos que fermentam interiores

Adubo eterno da morte

Semeio multidões que me conduzam

Para além da sólida contração

Da vertigem de existir.

da busca

julho 4, 2017

Quando a busca urge

O deslocamento age

Abertura de limites sólidos

Dissolvo imensidão de mar.

 

Quando a busca grita

Arranhando a carne

Pranto de garganta aflita

Meu corpo lacera um constante devorar.

 

Quando a busca volta, refletida

O que em mim, afinal, busca?

E se deixo de ser quem busca

quando encontro-me aqui

No úmido do peito

É que a busca não tem fim.

mão

julho 4, 2017

Me custa crer que a mão

Operária do mundo

Organizadora da prática

Seja artífice da morte

E da paixão.

Esta mão que na sua presença

Treme, esquenta e sua

Mão de gozos e de carícias

É aquela que me vela os olhos

Quando choro ferido de vida.

De toda contradição da mão

Veículo do caos e do cosmos

Me invade a nítida potência

Ponte entre mim e tudo

De estendê-la por tanta carne-viva

E receber o toque que germina

Com sua mão sobre a minha.

vazio

julho 4, 2017

O vazio da casa

Na janela

Na cama

Abriga o toque bravio do silêncio

 

Pele porosa transpassada de vida

 

O vazio que me habita

No peito

Na testa

Na carne

Abre o corpo pro que está por vir

 

Futuro que brota no meio do mundo

 

Este vazio que me invade

Não alimenta medos na noite

Não corrói as estradas do dia

Não diz da violência que arruína

Quando me vejo diminuído

Preso em recipientes de vidro

Organizados nas imóveis estantes

De vitrines sociais.